A ESTRATÉGIA DO SANGRAMENTO CONTÍNUO

Por Luís Carlos de Lima Lei

 

Na guerra do Vietnã, os Estados Unidos perderam pouco mais de 58 mil combatentes¹. Esta foi a primeira guerra com cobertura ao vivo da imprensa e aquela nação não soube como lidar com seus mortos².

Clausewitz, no seu “Da Guerra”, nos explicou que a guerra é a continuação da política por outros meios, contudo como vencer uma guerra, impondo sua vontade ao inimigo sem ter que lidar com a opinião pública nacional a respeito de suas baixas em combate?

Entrando em guerra sem combater!

Quando jogamos Super Trunfo, lançado pela Grow na década de 1970, em suas inúmeras variações de temas, há uma constante: olhar suas potencialidades e jogar com as mais fortes! Em que os EUA eram muito superiores a antiga URSS? Certamente não no campo militar e sim no campo econômico. Esta foi a estratégia de desgaste da guerra fria, que culminou com a dissolução do consórcio de repúblicas socialistas e uma nova ordem mundial a partir do início da década de 1990.

A partir deste ponto a Rússia se reinventou e teve grande desenvolvimento econômico como fornecedora de energia para a Europa, criando uma forte dependência energética de integrantes da União Europeia, e consequentemente de países integrantes da OTAN, contudo este cenário começou a mudar em 2014³, devido a forte queda do preço do petróleo.

Política e principalmente política internacional é algo extremamente complexo de ser vivenciado e exercido, entretanto é algo simples demais quando se vai reduzindo seus fatos ao essencial.

Aparentemente os EUA e a OTAN estão procedendo novamente a estratégia do sangramento contínuo com a grande herdeira da facção comunista do mundo, atualmente na Ucrânia, fazendo a Rússia ter um desgaste econômico, seja com os gastos da “operação especial” propriamente dita, seja com as retaliações mundiais as empresas e a economia deste país que novamente deve levar a ruptura do equilíbrio entre poder centralizado, apoio dos oligarcas4, mídia parcialmente controlada, oposição com ação limitada e povo historicamente oprimido.

A estratégia de realizar aportes financeiros e de equipamento militar na Ucrânia é muito mais barata e menos letal para seus executores do que entrar em conflito direto, com as consequentes perdas de vidas. Neste cenário temos que a continuidade da atual situação é o melhor dos horizontes pois, se de um lado desgasta a economia russa e fragiliza sua máquina de guerra, gera tempo para que os aliados da OTAN encontre soluções para a dependência energética Russa.

Falta ver qual vai ser a posição real da China neste jogo!

Todavia, como fica a Ucrânia e sua população neste quadro? Pelo lado do país, certamente a sua reconstrução será realizada pelos seus apoiadores, ou pelas empresas indicadas por estes. E a população? Guerra é uma condição tão hedionda em que nunca se sabe ao certo o que cada ator poderia ter feito de diferente para a evitá-la que a simples aceitação de sua existência pressupõe a aceitação de que o atrito, as baixas e o sofrimento decorrente é também aceitável e natural; se puder terceirizar tudo isso, ainda melhor…

 

Fonte:

1 https://www.vvmf.org/News/2021-Name-Additions-and-Status-Changes-on-the-Vietnam-Veterans-Memorial/

2 https://www.life.com/history/faces-of-the-american-dead-in-vietnam-one-weeks-toll-june-1969/

3 https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56367308

4 https://gq.globo.com/Lifestyle/Poder/noticia/2022/03/quem-sao-os-oligarcas-russos-bilionarios-origem-historia-fortuna.html

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